6.2.12

A Relógio D’Água na Ler de Fevereiro de 2012




Na Ler, Rogério Casanova escreve sobre Nas Montanhas da Loucura, de H. P. Lovecraft: «Como quase toda a ficção que Lovecraft escreveu, Nas Montanhas da Loucura (Relógio D’Água, trad. Teresa Seixas) começa no rescaldo de acontecimentos terríveis que levaram o narrador ao limite da desintegração psíquica. Aproveitando os últimos resquícios de sanidade, o mesmo tenta deixar um registo para a posteridade, de uma forma tão impessoal e rigorosa quanto possível. No caso em questão, os acontecimentos ocorreram durante uma expedição multidisciplinar à Antártida, conduzida por vários membros da Universidade de Miskatonic, com o sempre sensato objetivo de “recolher amostras”. O que acabam por encontrar é um conjunto de fósseis de criaturas sobre cuja origem “é inútil conjeturar”, e que, para agravar a situação, se revelam não inteiramente fossilizados.


José Mário Silva escreve sobre O Lago, de Ana Teresa Pereira: «Nos últimos livros de Ana Teresa Pereira, o teatro vem ocupando um lugar cada vez mais importante na densa rede de referências simbólicas da autora. Mas é em O Lago que se esbate de vez a fronteira — porosa e vagamente assustadora — entre palco e vida. Se na novela anterior (A Pantera), uma escritora (Kate) transformava o ator com quem se envolvia (Tom) em personagem de ficção, desta vez há um dramaturgo e encenador (também chamado Tom, o mais recorrente dos nomes-fétiche de ATP) que pretende converter uma atriz na própria essência da fugidia protagonista da sua peça. “Há algum tempo que ela usava as palavras representar e escrever como se fossem exatamente a mesma coisa”, diz-se a propósito de Kate em A Pantera


No mês em que se comemora o bicentenário de Charles Dickens, Hugo Pinto Santos escreve sobre o autor de David Copperfield: «Certo dia, um funcionário da Tesouraria da Armada passeava na companhia de um amigo. Este, ao deparar com o filho de um companheiro no seu habitual local de trabalho (uma janela junto à qual rotulava frascos de graxa), deu-lhe uma moeda. Muito dignamente, o rapaz agradeceu, sem que o pai reagisse de forma visível. O jovem era Charles Dickens, e o episódio é apenas um entre os vários aspetos da sua vida que a arte do escritor transporia para a ficção — “Quando não existiam garrafas vazias, havia rótulos para colar nas garrafas cheias, rolhas para adaptar aos gargalos, cápsulas que se acomodavam em caixas” (David Copperfield, Relógio D’Água, p. 145).


Bruno Vieira Amaral escreve sobre Flush — Uma Biografia, de Virginia Woolf: «A inevitável antropomorfização das experiências de Flush conduz o livro, em certos momentos, para o registo alegórico, com o mundo dos cães a servir de base a uma crítica à sociedade inglesa de meados do século XIX. Flush é um aristocrata canino que cedo percebe que “não existe qualquer igualdade entre os cães: uns são nobres, outros são cães inferiores”.» Bruno Vieira Amaral diz ainda: «As palavras são como instrumentos que tentam penetrar a insondável parcela da realidade habitada por Flush. Uma realidade olfativa, de “infinitas gradações” entre os extremos a que os seres humanos são sensíveis.»


Bruno Vieira Amaral escreve também sobre Diário de Oaxaca, em que «Oliver Sacks (n. 1933), autor do célebre Despertares, registou em forma de diário as suas experiências durante uma excursão de botânicos “amadores” à região de Oaxaca, no México».

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