20.8.21

Sobre Great Jones Street, de Don DeLillo

 



«A fama requer todo o tipo de excessos. Refiro‐me à verdadeira fama, um néon devorador, e não ao sombrio renome de estadistas apagados ou de reis insignificantes. Refiro‐me a longas viagens num espaço cinzento. Refiro‐me a perigos, ao gume do vazio, à circunstância de um homem comunicar um terror erótico aos sonhos da república. Compreendam o homem forçado a habitar essas regiões extremas, monstruosas e vulvares, humedecidas por reminiscências de transgressão. Ainda que meio louco, esse homem é absorvido pela loucura geral do público; ainda que inteiramente racional, um burocrata no inferno, um génio secreto da sobrevivência, ele tem a certeza de ir ser destruído pelo desprezo da massa pelos sobreviventes. A fama, este tipo de fama, alimenta‐se do escândalo, daquilo que os conselheiros de homens inferiores considerariam publicidade negativa — histeria em limusinas, lutas à facada na assistência, litigâncias bizarras e traições, pandemónios e drogas. Talvez a única lei natural associada à verdadeira fama seja a obrigatoriedade, para o homem famoso, de um dia se suicidar.

(Percebe‐se que fui um herói do rock ‘n’ roll?)» [p. 7]


Great Jones Street (trad. José Miguel Silva) e outras obras de Don DeLillo estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/don-delillo/

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